sábado, 6 de dezembro de 2008

Post bastante rápido (ou consideração breve sobre a natureza do atraso)

Tempo. Aquilo que tem faltado nos últimos tempos. Por entre relatórios, trabalhos e apresentações, vão escasseando os segundos.
Corro - para a aula e para o autocarro e para casa e para os ensaios e para o bar e para a cantina e para as compras e para a vida - e nem assim consigo evitar chegar atrasado!
Ou invento um avião, ou tiro a carta de condução, ou atrasarei o relógio então...

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

19...

... anos. Resposta do milhão de euros: estou mais velho!

E hoje não tenho mais nada para dizer. A imaginação secou e as palavras não fluem. E como um aumento de idade corresponde a um aumento de rabugice, vou fazer beicinho. E para terminar vou dizer obrigado a quem gosta de mim, a quem não me pode ver à frente, a quem já me esqueceu, a quem ainda não conheci... são vocês que fazem de mim a pessoa que sou. E que apesar de tudo está toda contente (ainda que não o admita, por parecer atitude de criancinha) por fazer anos!

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

A Crise

Não há como fugir! É na televisão, nos jornais, na rádio, nos locais de trabalho, nas filas de trânsito, nas paragens dos autocarros... todos falam em crise. Mas que crise?


Há uns meses, a crise era essencialmente derivada ao aumento das matérias-primas (especialmente do petróleo) e, consequentemente o preço dos alimentos e de outros produtos aumentavam. Por mecanismos associados (e não sou economista para os entender) aumentavam as taxas de juro e a moeda estava hipervalorizada. Depois, veio o subprime. Créditos de alto risco para pagar outros créditos. E esse dinheiro prestes a explodir...

E um dia a bolha rebentou. As bolsas entraram em crash, os governos emprestaram dinheiro, os bancos foram vendidos ou nacionalizados. À margem disso, o petróleo ficou mais barato (mas a gasolina não). Dizem que o sistema não vai resistir.


Pessoalmente, não acho que esta crise seja o fim da história. Aliás, a história é perita em repetir-se e crises destas sempre houve desde que o mundo é mundo. Só mudam os objectos e as formas, mas a competição para obter mais esteve sempre presente desde o início.

É complicado definir regras para algo que nos é intrínseco. Mas elas são necessárias em sociedades tão complexas como a actual. Não somos animais que se digladiam por uma peça de caça. Somos seres dotados de raciocínio, capacidade crítica, imaginação, memória, capacidade de aprendizagem... E de liberdade. Na minha opinião, esta crise é resultado da utilização abusiva que alguns fizeram da sua liberdade. O que me faz valorizá-la cada vez, e sentir cada vez mais o peso da sua responsabilidade. Não acredito em fórmulas mágicas cujo resultado, grandioso mas terrível, a história mostrou em todo o seu esplendor. Mas acredito no contributo que cada um pode dar para construir a sociedade.


P.S.: E até que a tormenta passe, vamos contando os cêntimos...

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Re-começar

Setembro é o mês do "re". Reiniciar, reatar, reentrar, reestruturar, renovar. E ter saudades das emoções diurnas (e nocturnas!) do Verão...

Depois da rotina das férias, entramos na rotina do trabalho. Em pezinhos de lã (e neste país à beira-mar plantado, em pezinhos de caranguejo). Cinco objectivos profissionais para os próximos tempos: Genética Molecular, Fisiologia, Bioquímica II, Imunologia , Métodos Instrumentais de Análise I. Prefiro vê-los deste modo porque eles efectivamente implicam trabalho. E para ganhar alguma coragem para os cumprir...

Por aí, dizem que os meus colegas de nacionalidade andam com o spleen. Que país é este em que até temos o luxo de passar dias com stress pós-férias? Tudo bem que tenho a minha pancada, e que me custa que acabem as férias, mas não me tinham dito que estava internado num manicómio colectivo e autofágico em que a geração-dos-empréstimos-para-comprar-o-plasma-da-sala fica deprimida. Até os sound-bites transpuseram as sedes partidárias e o Sasha Summer Sessions; e já não são exlusivos do Verão. Uns sais de lítio já iam, não?

Mas fora isso este recomeço está a ser melhor do que esperava... Se posso viver a minha vida da maneira que acho melhor sem prejudicar ninguém, tranquilamente, acho que não posso pedir mais nada (ok, só mais uma horinha para dormir!).

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Intervalo. Pausa.

Paro.

Neste momento, a minha vida resume-se ao verbo “parar”.


Levantar-me, comer, ajudar nas tarefas quotidianas, deitar-me – um mero reflexo orgânico, o metabolismo basal da alma.


Porquê parar? Para descansar fora e dentro.

Para quê parar? Para que o fora e o dentro possam corresponder quando solicitados num futuro próximo.


Parar para sempre? Suicídio.

Parar dinamicamente? Paradoxal, mas essencial.


O que é parar dinamicamente? É como se, ao subir uma escada, atingíssemos o patamar. Um pé no degrau anterior e outro no degrau seguinte. Olhar para baixo uma última vez e avançar decididamente em direcção ao cimo. Ver o mal para não o repetir. E recordar o bem – com a consciência de que a vida não faz marcha atrás. Ao ganhar essa consciência, o cérebro ordena e os músculos efectuam: a cabeça vira-se e a perna sobe.


Está a chegar esse momento para mim. A consciência chegou antes do tempo, mas só agora é possível que ela actue – só agora o factor “circunstância” activa essa força imensa.

Dizem que a circunstância é amoral. Eu digo que ela não é responsável pelos actos, mas pelas consequências. O acto vem de nós, simplesmente nós confundimo-lo com a consequência porque esta é visível.


Nesse último relance, também com espanto se verifica que o “meu conteúdo” não muda. O acto é coerente comigo mesmo. Mas a consequência… a consequência muda conforme a circunstância. Por isso somos “escravos da circunstância”.

Nós, a nossa maneira de ser, os nossos genes: não mudam. O ambiente, a circunstância, o contexto: alteram-se a cada momento. É o modo como expressamos o “interior” que muda perante o “exterior”. Mas, na realidade, não ocorre mudança.

Neste patamar da vida, descobri que ser feliz não é mais do que ter consciência de mim mesmo e decidir conscientemente sendo coerente comigo mesmo – evitando o que puder em negativismo e potenciando as qualidades.


Já disse que é bom parar?

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Mudar de Casa

Não, não me estou a referir à casa de férias... Isso é que era bom, mas agora com as taxas de juro a subir e todo o conjunto de indicadores económicos a piorar a olhos vistos, há uma regra de ouro: não recorrer ao crédito ao consumo. A situação actual faz-me pôr a seguinte pergunta: em vez de tantos Estudos Acompanhados e coisas que o valham, porque é que não aplicam o tão famigerado "ensino centrado no aluno" e não ensinam aos adultos de amanhã Economia Doméstica? Se calhar, diminuíam os problemas com os empréstimos...
Mas deixando de lado estas considerações e passando à questão do momento, que me leva a interromper as férias:

Os desenhos finais das novas instalações da Faculdade de Farmácia e do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS) da Universidade do Porto são hoje apresentados no Auditório da antiga Reitoria, na rua D. Manuel II. Com um orçamento estimado em 30 milhões de euros, as futuras instalações receberão 3.150 estudantes da área das Ciências da Vida e da Saúde.
A ministra da Saúde, Ana Jorge e o ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Mariano Gago presidem hoje, dia 25 de Julho, à cerimónia de lançamento da primeira pedra do novo complexo que vai albergar a Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto (FFUP) e o ICBAS.
As novas instalações vão substituir as antigas que já não têm capacidade para acolher os mais de três mil alunos e os 350 docentes e investigadores destas instituições de ensino.
As duas escolas vão partilhar um complexo de edifícios, que serão erguidos nos terrenos da antiga Reitoria da Universidade do Porto. Este projecto de reabilitação tem como objectivo criar um pólo de Ciências da Saúde aliando duas componentes importantes, a educacional e a hospitalar.
Os edifícios construídos de raiz terão mais espaços e melhores equipamentos de forma a corresponder ao crescente número de vagas que o curso de Medicina do ICBAS abre todos os anos.
A obra renovará por completo o quarteirão da cidade do Porto que é delimitado pelas ruas D. Manuel II, Jorge Viterbo Ferreira e Restauração e ainda pelas instalações do Hospital Santo António. Nesta área, superior a 35 mil metros quadrados, vão ser construídos até 2011 três novos edifícios. Entre eles está um novo pólo de ambulatório para o hospital.
Estima-se que neste quarteirão vão circular, diariamente, mais de 1.600 doentes e respectivos familiares, três mil alunos e cerca de 500 professores.
Um dos propósitos da obra é a promoção de sinergias entre a universidade e o centro hospitalar. “O ICBAS nem tanto, porque está umbilicalmente ligado ao hospital, mas a Faculdade de Farmácia vai começar a ter um contacto mais directo com a unidade de saúde”, diz fonte da Reitoria.
Os arquitectos José Manuel Soares e Ricardo Alegre são os autores dos dois projectos.
(Fonte: Canal UP)

Claro que das apresentações dos projectos até à concretização física ainda vai um espaço bastante grande. Mas se não se der este passo, certamente também não chegaremos às novas instalações. É um motivo de contentamento, mas não de euforia. Alegria na justa medida.



Agora, em termos práticos, e como aluno da FFUP, o que poderá, em minha opinião, trazer este complexo de ensino universitário?

1. Uma visão diferente do ensino das ciências da saúde, relevando as áreas comuns aos diferentes cursos mas preservando as suas especificidades, o que poderá permitir um acréscimo de massa crítica.
2. No seguimento do ponto anterior, penso que poderá constituir-se como uma plataforma de investigação muito abrangente e única em Portugal, com um leque de vias de pesquisa que vai desde a Bioquímica até à Hidrologia, passando pelo Melhoramento Animal, pela Genética e pelo Design Farmacêutico.
3. Cumprimento de uma função social, revitalizando uma zona antiga do centro da cidade. Sem destruir a sua traça, mas modernizando-a.
4. Em termos de saúde pública, é um acréscimo claro de qualidade para os utentes servidos pelo Centro Hospitalar do Porto. Estas instalações não prejudicam a relação ICBAS-Hospital e permitem que a FFUP possa ter a oportunidade de contactar e interagir com um grande hospital diariamente. Este facto pode ser o ponto de partida para uma mudança de paradigma a nível da Farmácia Hospitalar em Portugal, podendo a FFUP colocar-se num plano de evidência a nível desta especialidade.
5. Quanto à reestruturação orgânica da UP, penso que não será uma boa solução optar pela fusão das faculdades. Seria mais benéfico, e para a concretização do ponto 1, avançar-se para um "Agrupamento de Unidades Orgânicas", que preservando a matriz identitária de cada instituição, permitisse combater o desperdício.
6. Uma última nota para alguns comentários que consideram um erro estratégico não se optar pela melhoria mais rápida das condições do Hospital de São João, ficando aí situado o pólo. http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1336529

Reconhecendo a minha parcialidade, e não desprezando os constrangimentos de algumas instalações (por exemplo, Ciências da Nutrição) limito-me a dizer que a FFUP já está à espera destas instalações desde o incêndio de 1975 e o ICBAS desde 1993. Ambas as instituições estão a usar instalações da Faculdade de Direito para assegurar o normal funcionamento dos cursos.
Quanto a "premiar o mérito", eu considero que este pólo é exactamente um incentivo ao mérito. Falando em relação à FFUP, é a 2ª faculdade com melhor índice de produção científica por docente (a apenas 0,1 da melhor faculdade). E boas instalações podem contribuir para melhorar estes resultados.
É, sem dúvida, um passo importante para a afirmação internacional da Universidade do Porto, pelo que pode trazer de produção de conhecimento e este pode potenciar a nível académico, económico, cultural, social.

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Intermezzo

País a recuperar dos piquetes e dos jogos do Euro.
Época de exames.
Em Lisboa, ressaca do Santo António.
No Porto, prepara-se o São João.
Em Macedo, já falta pouco para uma semana de São Pedro.

Até lá, um intermezzo - e depois, a silly season.

Do mal, o menos: há 120 anos nascia(m) aquele(s) cujo nome no BI é Fernando António Nogueira Pessoa.


"O sonhador é que é o homem de acção."


"Se houvesse de inscrever (...) a que influências literárias estava grata a formação do meu espirito, abriria o espaço ponteado com o nome de Cesário Verde, mas não o fecharia sem nele inscrever os nomes do patrão Vasques, do guarda-livros Moreira, do Vieira caixeiro de praça e do António moço do escritório."


"Se um homem escreve bem só quando está bêbado, dir-lhe-ei: embebede-se. E se ele me disser que o seu fígado sofre com isso respondo: o que é o seu fígado? É uma coisa morta que vive enquanto você vive, e os poemas que escrever vivem sem enquanto."

(Livro do Desassossego, Bernardo Soares)

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Resposta à Pergunta do Dia (Atrasada)

http://www.peliteiro.com/2008/05/da-formao-e-profisso-farmacuticas.html

(Depois de ler isto, acho que a minha opção pela profissão farmacêutica está correcta. E o que o saber nunca é demais, mesmo que pareça árido como os conceitos anatómicos...)

EDIT: Mais um tópico para a discussão. Seria pertinente uma atitude semelhante da Ordem dos Farmacêuticos?

sexta-feira, 30 de maio de 2008

Pergunta do dia

Porque é que um estudante de Ciências Farmacêuticas tem de saber Anatomia?

domingo, 25 de maio de 2008

Big Brother is Watching You

War is Peace
Freedom is Slavery
Ignorance is Strength

(1984, George Orwell)

quinta-feira, 22 de maio de 2008

Amanhã é a frequência de Química Orgânica II. Penso que não saberei metade dos mecanismos que devia, ou metade das definições exigidas. Por um momento, não é isso que me importa. Ao (tentar) estudar, apercebi-me de um paralelismo mais importante, entre os átomos e as relações humanas. Ao fim e ao cabo, se nós também somos átomos porque é que o seu comportamento não há-de manifestar-se em nós?

Reparemos na habitual complexidade dos mecanismos químicos. Trocas de electrões. Formação de compostos intermediários. Simultaneamente, uma lógica clara. Uma estética que nos deixa assombrados - é a natureza e a sua perfeição. E a minha vida? Fácil e difícil, tudo ao mesmo tempo e tudo misturado.

Não é fácil mudar de terra. Não é fácil autonomizar-se dos pais. Não é fácil gerir a vida doméstica. E, no meu caso, o ano de caloiro, que implica um espírito de sacrifício superior ao comum. Tudo isto implica fazer opções, abdicar de certas comodidades e ter um rasgo de iniciativa, inspiração, irreverência.
Mas há sempre o outro que dá a mão para a ajudar. É um ano em que as responsabilidades são mínimas: num grupo grande, elas distribuem-se e diluem-se. É um ano em que certas questões não afloram - o espírito não está ainda suficientemente maduro para as colocar, pelo que muitas das atitudes não resultam de uma reflexão, de uma vontade consciente mas do "impulso" ou da "necessidade" do momento.

Compreendo agora as lágrimas que chorei. Apercebi-me que o tempo da inocência acabou. Mais liberdade, mais responsabilidade. E eu tenho medo da responsabilidade, de não estar à altura das circunstâncias. Apercebi-me que deixei de ser um miúdo ou um adolescente, para ser um adulto. E não são os 18 anos no BI que trazem isso. Temos de ser nós a compreender que esse tempo chegou. E para mim, ele chegou.

E por isso dói. A lucidez de compreender que "esta vida são dois dias/ e um é para acordar/ das histórias de encantar". E que eu já acordei. E concluí que nem sempre tenho iniciativa. Que tenho medo de fazer opções. Mas mais importante: que "o outro que dá a mão para ajudar" não tem que sofrer as consequências dos meus actos irreflectidos. Sou eu que as tenho que assumir e, - embora tarde demais, que nisto das reacções químicas ou da vida, há um tempo certo para tudo (e quando não há é porque elas não deverão acontecer) - assumo-as e aceito-as.

E a responsabilidade do momento é estudar Química Orgânica porque "nada é dado, tudo se conquista"...

terça-feira, 13 de maio de 2008

A minha próxima compra em tempos de muito estudo



A cor é linda, não é?


Som de Fundo: Viva la Vida, Coldplay

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Sete meses

Hoje não tive aulas de manhã e deu-me para limpar o apartamento. Arrumar livros, folhas, apontamentos, coisas velhas e algumas recordações...

Isto hoje é um tumulto de sentimentos. Sinto-me bem e mal, com este desassossego interior que teima em não me deixar. Nostalgia mistura-se com alegria, saudade com realidade. Entre o passado e o futuro. O presente parece não ser mais do que o interlúdio destes dois tempos. Há coisas que vivi há pouco tempo, mesmo para a escala humana, e que não parecem ser desta vida. O mundo acelera e volta a acelerar. Viver tudo ao máximo - para evitar pensar, reflectir (e arrepender-se?).

Há momentos em que preciso de estar aqui. A cidade grande, a agitação, o barulho.
Há momentos em que quero fugir para o conforto e a tranquilidade da minha terra.
Mas qual é a minha verdadeira casa?

A marota da lágrima quer fugir... Porque é que o cérebro produz as recordações? Para o coração as reconhecer, enviar um sinal ao cérebro e este em seguida manda as glândulas produzir suco lacrimal. O que é uma bela porcaria.


P.S. Faz hoje sete meses que mudei definitivamente para o Porto. É a única razão para o título. "Post sem título" era mais feio.

sábado, 19 de abril de 2008

Conversas sobre o tempo

Parece que o céu decidiu abrir-se... em aguaceiros. E o vento compõe o ramalhete.

Som de fundo: "Banho de Chuva", Vanessa da Mata

terça-feira, 15 de abril de 2008

Hoje...

não me apetece estudar Orgânica II. Acho que amanhã a frequência vai ser bem rápida de resolver...

Som de Fundo: "Amanhã é sempre longe de mais", Rádio Macau

domingo, 6 de abril de 2008

Considerações pessoais sobre o Big Bang

No início, era o nada. Melhor: algo que nós, humanos, não conseguimos definir com mais profundidade do que "um ponto de energia". Depois, a partir do Big Bang, surgiriam as partículas subatómicas, os átomos e os elementos, as moléculas, os organelos, as células, os tecidos, os sistemas, as colónias e finalmente os organismos. Uma saga digna não só de uma oral de uma qualquer disciplina químico-biológica como de qualquer livro de história(s) que faça verdadeiramente jus ao seu nome.

Uma das coisas que mais me fascina no parágrafo anterior é, sem dúvida, o paradoxo da grande explosão. Como é que a partir da destruição surge o novo? Ou o antigo apenas tomou uma nova forma que se manifesta de forma visível às nossas mentes?

Hoje, o meu pensamento debate-se com este problema: eu sou aquele que se reinventa ou pelo contrário, sou aquele que vive do antigo embora com nova aparência?

Uma das críticas que sempre fiz a mim próprio foi a imobilidade. Não se entenda num sentido estritamente físico (embora também goste de dormir a siesta a seguir ao almoço), mas psicológico. Nunca gostei de arriscar, preferi sempre jogar pelo seguro ou, à falta de melhor, pelo risco calculado. Excessiva auto-crítica? Julgo que não. Ao contrário de muitos, nunca me considerei um criador de oportunidades, sequer ainda um aproveitador de oportunidades. Fui vivendo a vida tentando contornar os obstáculos e tornando o péssimo em menos mau. Muitos dos que passaram (e passam e passarão) pela minha vida dirão o contrário, que sempre criei situações para sobressair, para ter sucesso.

Na verdade, nunca senti que tivesse de lutar por um "sonho", uma "vontade" como os outros tinham porque simplesmente sempre achei que isso não iria representar um acréscimo de "felicidade". Porque a felicidade só se revela quando a perdemos... E concluímos que foram breves momentos, fugazes como castelos na areia... E quanto a protagonismo: já passei as birras da infância - assunto encerrado.

Contudo, por vezes, acontece que o menos mau se revela, ao fim de algum tempo, como bom, óptimo até. E surge, fica sempre a interrogação: "Será que...?" Nós, os humanos, somos seres de respostas e não de perguntas - basta olhar para o desiquílibrio que nos rodeia e para a nossa atitude tantas vezes complacente e comodista. Parece que a minha vida tem sempre sido conduzida por fios invisíveis que não controlo; a minha atitude varia entre a mais convicta aceitação da minha impotência e a rebelde ousadia de contrariar essa incapacidade.

Estou a caminho da explosão ou da implosão? De qualquer modo, fica o aviso: cuidado com os estilhaços...

quinta-feira, 13 de março de 2008

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

2º Semestre: The Beginning

Começou o segundo semestre do primeiro ano do Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas da Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto. Para quem ainda não sabia, é o curso universitário que eu frequento. Praxe e aula de Bioquímica I ("Mas vocês não sabem estas coisas tão fáceis como o qua-qua do pato?") são o resumo do dia.

Apesar da época de exames e das dificuldades que surgem, sinto-me com vontade de fazer com que este semestre seja ainda melhor do que o primeiro - na faculdade, na praxe, nas aulas (e nas notas), na vida pessoal. É o meu único desejo e vou-me esforçar ao máximo para o conseguir. Estou farto de "Velhos do Restelo" que muito agoiram e pouco agem. É hora de ser "descobridor", de arriscar e fazer mais e melhor. Com a ajuda de todos tudo é possível.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Balanço - III

(conclusão dos posts anteriores)
"Quem fez Psicologia de 12º ano, agora terá de fazer uma psicologia profunda dos livros de Química e Biologia."

"Olhem para o quadro, que eu não sou hidrogenada."

"A seta vai para aquele que quer casar. Tudo tem de bater certo... pelo menos até acabar."

"Ele tenta-se primeiro satisfazer no seu domínio."

"Eu adoro rapazes com cabelo comprido, para desancar com toda a gente no laboratório."

"Quem gosta do grupo de fados é porque tem cera nos ouvidos."

"Porque é que eu estou a divergir, a divagar?"

"Os implantes mamários estão pela hora da morte."

"Só se dá aquilo que se tem. Isto são apenas sinais da sociedade que as moléculas interpretam."

"As aminas biológicas são uma coisa muito boa e estão presentes no vinho."

"Pensem que estavam 10 mulheres a trabalhar e passa o Brad Pitt. Quando ele passa, elas vão todas ao monte ter com ele. A concentração é a mesma mas a capacidade de trabalho é menor. A actividade é isso."

"Façam o boneco como está aqui."

"Esta estrutura é o local de localização."

"Já fiz a minha catarse política e a minha parte lúdica. Agora vamos voltar a estar com atenção."

"Como eu digo, este método não exige ultracentrifugações com ultrafoguetões."

"É a 1ª Lei de Ficks... oops! Fick! Olha, hoje ainda só disse uma asneira."

"Vocês são quase todos de chumbo."

"Eu bem sei que está na hora do almoço, mas vamos lá acabar isto, senão amanhã não há palmas para a Professora."

"Ninguém está sozinho na sociedade, até os electrões do anel benzénico. Há sempre influência de outros."

"Não pensem que eu sou de esquerda porque falo para o lado esquerdo do auditório, mas é que ao passar pelo projector fico toda avariada dos olhos."

"Há pessoas que se portam como crianças. Há outras que são estúpidas e fumam, como eu."

"O Senhor Einstein meteu o dedo em tudo."

"RPM não é aquela bicicleta agora da moda, é rotações por minuto."

"Já não basta aturar filhos chatos que comem mal, ter ainda que andar sempre a bater na papa para ficar fluida."

"É o crossing over que define que eu seja loira, alta, esbelta, magra."

"Para que haja comunicação social, oops! celular..."

"Também podem tirar o cinto, desde que não caiam as calças."

"Eu não me inibo de contar chachadas."



Espero que seja do vosso agrado. E Segunda-Feira lá estaremos para começar em grande o 2º semestre (sem aula de Química Orgânica II).

Balanço - II

(continuação do post anterior...)
“Eu não sou anti-praxe. Eu até me licenciei e doutorei em Coimbra; praxei muito e fui muito praxada, mas nunca estive de 4 ou a limpar o tapete do chão. Estou farta daqueles gritos!”

“Tudo bem que façam jabardices, mas agora no bar da faculdade, no nosso e vosso local de trabalho?! O que é que pensam? Os professores sabem de tudo!”

“Isto aqui é um perigo. Os fumos são evacuados para a área de investigação e com sorte ainda recebemos de Química Física. Isto é uma verdadeira promiscuidade de ambientes!”

“Isto de dar aulas às 9 da manhã é fantástico. Vocês parecem umas múmias!”

“Há muitos anos, dei aulas no secundário. Que experiência horrível!”

“Há muita gente que ensina e não sabe nada!”

“Não suporto enfermeiros!”

“Eu não tenho por princípio dar aulas a frascos com rótulos, que é o que vocês parecem com aquelas t-shirts e aquelas placas!”

“Nesta faculdade andam sempre todos bêbedos!”

“As discotecas são o paradoxo da Teoria do Caos: alta probabilidade de acidentes e geralmente toda a gente se diverte e fica bem depois de uma noite!”

“A melodia dos sinos da Igreja de Cedofeita é bem melhor do que aqueles vossos gritos para os vossos pseudo-doutores.”

"Os nossos estilistas, se vissem isto [os modelos moleculares] adaptavam-nos logo para umas toilettes."

"No meio de crianças eu não dou aulas, senão tinha ido para a pré."

"Está com algum problema no seu estereocentro?"

"Isto aqui não há fada-madrinha do espelho mágico."

"Quais são as enzimas que degradam as proteases?"

"Não tentem minar a disciplina com vírus da gripe."

"Eu não vos vou dar a dedução da fórmula, porque não quero que vocês adormeçam tão cedo."

"Estava tudo tão direitinho. O que é que vos causou entropia? Os centros estereogénicos continuam os mesmos..."

Balanço - I

Estou de férias. Só até Segunda, mas estou. Aproveitar ao máximo é o lema!

O 1º semestre ainda agora acabou e já estou com saudades (com a óbvia excepção dos exames). E para recordar bons momentos, nada melhor do que recuperar algumas frases, da autoria dos nossos excelentíssimos professores, que fizeram a risota de todos.

“Depois de agitar, gostamos é de centrifugar, para acelerar a nossa vida!”

“Só temos uma maneira de começar: pelo início!”

“A orbital é um apartamento muito pequeno, onde só cabe um electrão celibatário ou dois. Não há entropias de qualquer ordem!”

“Os radicais livres são os solteirões mais insatisfeitos à face da terra. Querem um casamento à força!”

“Quem diz que na Química Orgânica não há arte e design? Claro que há!”

“De repente, no exame, o átomo de carbono adquire uma muleta e fica com 5 ligações!”

“Coeficiente de assimetria é uma coisa doida que nem eu sabia.”

“Alguém tem uma mangueira aqui?”

“E como eu já estou farta deste jogo de pôr e tirar, agora vamos fazer… uma primitivação por substituição”

“Aqui está o futuro! E aqui está o passado!”

“Shhhh! Calem-se! Agora falo eu!” (per omnia secula saeculorum)

“Sabem quem é o Pierre Curie? Era marido da Madame Curie que ganhou 2 prémios Nobel. Ele andava sempre com um frasquinho de rádio ao peito, porque era bonito e porque dava luz à noite. Ele morreu debaixo de uma carroça mas se não fosse isso morria de radioactividade!”

“As leiteiras de antigamente sabiam muito mais de química do que nós. Punham urina no leite porque a densidade era a mesma. Conclusão: as pessoas que fazem grandes fraudes são os químicos perfeitos!”

“Um exemplo de interface gás-líquido é a nossa querida cerveja!”

“Interface sólido-sólido é só para os engenheiros!”

“Vamos dizer humano em vez de homem porque senão as mulheres, coitadinhas…”

“Eu gosto sempre de mostrar o tamanho do cromossoma X e do cromossoma Y, para comparar…”

“Um linfócito é um bocado como um ovo estrelado, mas a gema do ovo geralmente não é tão grande como o núcleo.”

“Pensem! A cabecinha é para pensar!”

“Vou antes fazer os meus Bonecos!”

“Vamos preencher o buraco do nucleótido!”

“Veja lá se ao entrar pela frente não tem que sair por trás!”

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Today I feel like a...

Picture perfect
A life that you saw in a magazine
Or maybe a travelling book
Wanted to get on that plane and fly away
Cause you are a rock star deep down inside
You walk with a swagger, got nothin' to hide
Cigarette in your mouth, a cuff on your jeans
Your sideburns are perfect, you're a perfect and lean
So you made an oil painting to inmortalize
All of the hope and vision in your eyes
In your leisure coat and cowboy hat
North American records and so much to bat for

Please bring me along
Please bring me along
Because I want to see everything you have to offer me

Get a job lifting cement
Oh it's so dry when it rains it gets wet
And the village was great, now it's a suburb
You left behind half of all that you had learnt
Relearn a couple things along the way
The thrift shop so clean all for half what you'd pay
So you try everything on, on for size
Drop top your Camaro and go for a ride

Please bring me along
Please bring me along
Because I want to see everything you have to offer me

And I don't mind to sit here and waste my time
Oh but this world is not mine to define
And I want to shine

Please bring me along
Please take me away
I don't want to stay

And I want to see everything you have to offer me
And I want to see everything you have to offer me
And I want to see everything you have to offer me
I want to see everything the world has to offer me
I want to see everything the world has to offer me
I want to show everything I have to offer it
I want to show everything I have to offer it now

(Performed by Nelly Furtado)

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Em Estado de Alerta

O sono fugiu a sete pés. Tenho por companhia a insónia desta noite que teima em começar a instalar-se.

A perspectiva da injustiça é como um bisturi que corta milimetricamente e deixa à vista as fragilidades que eu desejava que permanecessem ocultas. O espectro do erro pende sob a minha cabeça; sinto-me como um condenado à morte que tenta fugir ao seu destino.

Observo os outros. Cada qual com sua conquista. E eu? Conquistei apenas a minha verdade. Chega? Não, não para mim. Quero mais, ir até ao âmago da existência. Não desejo necessariamente riqueza, prestígio, sucesso. É claro que adoraria chegar aos píncaros da fama. Mas de que me vale isso? No entanto, continuo a observar os outros. E eles são príncipes. Eu, uma simples pessoa.

Os meus radares estão todos em mode on. Vem aí tempestade. Pergunto-me: "Valerá a pena batalhar? Devo esperar pela manhã?"

Pessoa dá a resposta: "Tudo vale a pena, quando a alma não é pequena." Vamos à luta.

quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Exame de QO I (Qualidade e Organização I)

Como forma de expressar o meu gene que regula a bílis, o suco gástrico e afins, venho por este meio redigir este post.

Contexto clínico: Reprovação a QO I (Química Orgânica I, bem entendido).

Análise farmacológica: À falta de princípios activos suficientemente fortes para "tratar" da Sra. Professora das Saias, faça-se exame à novata (leia-se Senhora Ministra da Saúde) - se possível, com administração oral de óleo de fígado de bacalhau.


Grupo I - Sobre a problemática da urgência/emergência (7 valores distribuídos equitativamente)

1. O que é um SAP?

2. O que é o CODU?

3. Defina SUB, SUMC e SUP.

4. O que é o INEM?

5. Refira as especificidades dos bombeiros, referindo expressamente as diferenças entre voluntários e sapadores.

6. Quantos serviços de urgência vão fechar (oops, abrir)?

7. Onde fica Anadia? E Alijó?


Grupo II - Sobre as (outras) ordens profissionais (6 valores distribuídos equitativamente)

1. O que é um médico?

2. O que é um enfermeiro?

3. Quais são os direitos do médico?

4. Quais são os deveres do enfermeiro?

5. Distinga prática clínica de exercício da medicina.

6. Quantos enfermeiros vai despedir (melhor, reorganizar)?


Grupo III - Das generalidades da Farmácia em Portugal (5 valores distribuídos equitativamente)

1. Distinga parafarmácia de farmácia (daquelas a sério).

2. Distinga farmacêutico de técnico de farmácia (o seu antecessor, por exemplo, não sabia).

3. Defina unidose.

4. Distinga farmácia de oficina de farmácia comunitária.

5. Explique como se abrem farmácias de venda ao público em hospitais.


Grupo IV - Questão de desenvolvimento (vulgo "bónus") (2 valores)

Comente a seguinte afirmação: "Para onde vai a saúde em Portugal? Que linha condutora é seguida?".
No desenvolvimento da questão deve indicar expressamente:
- mecanismos envolvidos;
- projecções de Newman utilizadas;
- nomenclatura IUPAC;
- justificações quanto à (possível) aromaticidade do resultado obtido nos testes cromatográficos.



Nota Final: Amanhã, melhoria a Química Geral e Inorgânica e depois QO I...

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Indefinições

Estou a passar uma daquelas fases geralmente designadas por "crises existenciais". Sim, aqueles dias em que só nos apetece mandar o mundo dar uma curva na sua órbita e as pessoas de que mais gostamos para aquele sítio caracterizado por um cheiro muito próprio... Claro que o facto de existirem exames de Química Geral e Inorgânica na Sexta não ajudam nada à situação.

Contudo eu, como bom (futuro) cientista, fui tentar investigar quais poderiam ser as causas desta inquietude: peguei no material necessário, nos reagentes e apliquei as técnicas laboratoriais adequadas. Assim, procedi à cristalização da incerteza, à cromatografia da mistura de sentimentos para ver se conseguia separar os diferentes feelings, à electroforese dos estados de espírito. Resultado, apenas um: a insatisfação inerente ao ser humano e que, em intervalos mais ou menos regulares assoma à superfície da nossa alma.

Mas quais seriam as fontes desta insatisfação? Deixei de lado o laboratório e parti para o quarto. Ali, cruzei todos os dados obtidos. Depois, um pouco de raciocínio indutivo e outro tanto de dedutivo; dei por mim a fazer um balanço analítico destes últimos tempos. E recuei no tempo...

24 de Setembro de 2007, Segunda-Feira. O 1º dia de faculdade. Mais importante, o 1º dia de praxe. Aquelas horas de 4 e de 3, em frente à igreja de Cedofeita e na entrada da faculdade. Mas também os primeiros laços que se estabeleciam - nem que fosse através das queixas comuns a todos: "Doem-me os joelhos...". Hoje, aqueles colegas da 1ª semana, começam a tornar-se amigos - apoios insubstituíveis em tantas situações. Nos últimos tempos, sempre que reflicto um pouco, venho parar a este dia. E concluo que aquele dia, tão difícil, acabou por ser o início de uma aventura espectacular.

Em pouco mais de quatro meses (parece o quádruplo) fiz tanto. Tantas coisas de que não me julgava capaz. E não me refiro apenas a alguns momentos engraçados. Vai muito além disso: a capacidade de me relacionar com pessoas tão diferentes de mim e aceitar as suas diferenças em nome de um ideal comum; a capacidade de criticar construtivamente, de trocar argumentos sem me colocar numa posição de superioridade; a capacidade de gerir os aspectos quotidianos autonomamente; a capacidade de assumir os meus erros e as suas consequências.

Mas ao enumerar estas coisas, apercebo-me do longo caminho que há percorrer. Alguém referia há dias a metáfora do "balão": Quanto mais ele enche, mais sabemos. Mas a área de contacto com o exterior também cresce. Isto é, quanto mais sabemos, mais tomamos consciência de que ainda falta muito para descobrir.

Tentei viver e contribuir para tudo no máximo das minhas possibilidades. Acho que nem quando estava doente deixei de tentar fazer o melhor. E assumo que cometi erros, sem dúvida. Talvez o maior tenha sido esquecer-me em certas ocasiões do tão necessário espírito de autocrítica. E sinceramente espero que nunca, mas nunca me esqueça da t-shirt de caloiro que visto com todo o orgulho de ser de Farmácia, mas com toda a humildade daquele cujo caminho apenas agora se inicia.

Hoje, uma metade de mim já sonha com o futuro, com aquele dia em Maio em que o negro nos passará a acompanhar. Mas à outra, só lhe apetece voltar ao primeiro dia e reviver tudo novamente, de preferência em câmara lenta...

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Prolegómenos à arte de representar

É na Grécia que vamos encontrar a origem da arte de representar. Penso, aliás, que a definição etimológica de teatro (a primeira forma de manifestação dessa arte), "o local onde se vê", transporta consigo a ideia de assistir a um todo - acção, personagens, cenários e público, elementos que são interdependentes e dificilmente separáveis - onde podemos observar facetas peculiares da realidade, tratadas de uma maneira ficcionada.

Esta manifestação cultural, complexa, foi evoluindo conforme o contexto social que a rodeou. Não será de estranhar que na Idade Média o teatro tivesse estado "adormecido" devido à influência da Igreja. Ou que o seu ressurgimento se tivesse dado (essencialmente) no Renascimento, como mais um elemento do Homem-centro-do-mundo. Ao longo dos tempos, drama e comédia (e os seus sub-géneros) foram alternando na preferência dos espectadores - por um lado as elites, por outro o povo.

Mas julgo que a arte da representação, na sua definição mais global, foi marcada por dois acontecimentos relativamente próximos de nós em termos históricos: a invenção do cinema e o surgimento da televisão.


O cinema trouxe consigo uma linguagem diferente. A perspectiva da imagem (e mais tarde do som) gravada era sem dúvida uma grande novidade. No cinema, as emoções poderiam ficar como que "cristalizadas", guardadas numa fita e sempre prontas a serem "descongeladas" quando o público quisesse. No meu entender, é esta cristalização que permite que existam as estrelas de cinema - as suas imagens sempre guardadas num canto da nossa memória, ora desempenhando o papel de herói, ora de vilão, ora num registo cómico, ora num registo dramático, naquela determinada situação, sempre igual.

A televisão, por muitos considerada um "veículo menor" de cultura, veio transformar ainda mais esta equação. Ela permitiu, na minha opinião, o cruzamento entre teatro e cinema através dos chamados "teledramáticos" - teleteatros, telenovelas, séries. Por um lado, a imagem filmada e por outro, o ecrã "onde se vê". No fundo, abriu infinitas possibilidades no que concerne à arte da representação através de fórmulas mais próximas respectivamente, ao teatro e ao cinema.

E penso que, depois destas considerações, seria injusto não fazer uma referência ao actor, aquele que "está em vez de", do grego "hypocryte". A construção da personagem é a sua essência. Conseguir representar uma outra personalidade, com base nas suas vivências, mas sem que essas se confundam com a personagem. Externamente, nós reparamos no olhar e nos gestos mas, interiormente o processo de criação é muito mais profundo - um verdadeiro mergulho na memória afectiva.

E tantas vezes vemos desempenhos magníficos - de que cito apenas o último exemplo que vi, n' "O Assassino de Jesse James" (apesar de a minha colega Verónica, certamente esgotada pelo exame de Física Aplicada, se ter entregado, muito literalmente, ao "sono dos justos"); o duelo entre o surpreendente Jesse James de Brad Pitt e o assombroso Casey Affleck como um Robert Ford disposto a tudo para ser uma "lenda viva" e ocupar o lugar do seu mentor.

Apesar de sermos tantas vezes "brindados" com o vedetismo de "modelitos" cuja capacidade interpretativa varia na razão inversa dos auto-elogios, temos a consolação de sentir que, com desempenhos como os referidos no parágrafo anterior, verdadeiras "construções" de índole humana, ficamos um pouco mais perto de conhecer a essência das coisas.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Divagações Metafísicas

Uma das questões que me aborreceu aquando da criação do blog, durante infindo tempo (à volta de 30 minutos e 29 segundos, com uma margem de erro de 2,377% - aproximada às milésimas) foi o nome que havia de dar a isto.

Uma das minhas ideias foi o título deste post: "Divagações Metafísicas". Com algumas razões perfeitamente (i)lógicas:

Divagação - s.f., acto de divagar; digressão; devaneio; episódios.

Metafísica - do Gr. tà metà tà physiká, depois dos tratados da Física
s. f., conhecimento das causas primeiras e dos primeiros princípios; parte da Filosofia que estuda a essência das coisas; conhecimento geral e abstracto; transcendência; abstracção; carácter do que é abstracto; subtileza no discorrer.

Ora, o que é um blog senão uma divagação? O seu autor faz digressões por todos os assuntos que lhe dêem na real gana. Muitas vezes (especialmente quando está chateado porque o exame correu mal ou, ainda mais frequentemente, porque a namorada lhe pôs os tarecos à porta do quarto - devido à TPM, como é óbvio) devaneia entre a realidade atroz, quase sufocante e este mundo cibernáutico de que ele é rei e senhor, preferindo este último (exceptuando quando o computador entra em processo de auto-destruição, o vulgaríssimo crash). E os posts são os episódios de uma novela da vida real (mas não confundam com o Big Brother). Ou então, para os espíritos mais românticos, as didascálias e os apartes que vão passando pelo palco da vida.

Quanto à parte metafísica... Bem, quanto à parte da metafísica, só posso dizer que um blog acaba por ser uma janela para o nosso apartamento global. Melhor: um blog pode e deve ser, na minha opinião, uma espécie de olhos (ou de dedos) da alma, um caminho aberto para a essência das coisas (referentes ao autor, bem entendido). E, continuando a ideia do parágrafo anterior, uma espécie de abstracção do que este não quer e não deseja. E a expressão grega "tà metà tà physiká" é absolutamente fenomenal e fofinha, especialmente devido à localização muito especial e um tanto característica da particula "".

Mas depois, num momento de lucidez absoluta, optei por "Notas Complementares ao Mundo". Não é que seja melhor, mas soa melhor ao ouvido. Parece o título de um livro escrito por um autor famosíssimo. E neste mundo que teima em querer acelerar a velocidade de centrifugação, sempre é melhor um autor conceituado do que andar a procurar conhecer as causas primeiras...

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Starting blogging...

"Em geral, no processo de projectar, o que depois se verifica ser referência, não nasce como uma citação. O que sucede é que a nossa cabeça está cheia de imagens e elas acorrem espontaneamente. [...] Porque o processo de projectar, no início, faz-se de forma muito global, quase nebulosa. Portanto, o que vem de referências não é citação; é a carga que tem o nosso computador pessoal e intransmissível."

Álvaro Siza Vieira, Arquitecto

Encontrei esta citação no Google sobre o início das coisas. Esse princípio, global, quase nebuloso. No meu caso poderia dizer: Para quê começar a escrever um blog? E as imagens, motivos e referências "acorrem espontaneamente":

"Porque os blogues estão na moda."


"Porque a blogosfera é um espaço de debate."


"Porque me apetece ter um blog."


"Porque me apetece ter um passatempo."


Eu, por mim, estou a criá-lo porque no dia da passagem de ano disse que este ano ia criar um blog. É uma razão ridícula, dirão alguns. E acrescentarão: "Já vais com oito dias de atraso."


Bem, digamos que ela é apenas a causa próxima. Ao começar a escrever o blog, tenho também a convicção pessoal que um blogue pode ser o modo de me situar no mundo, de forma irrepetível, original, criativa. Ou talvez mais correctamente: "recriativa", na medida em que resulta da nossa leitura personalizada das referências, dos acontecimentos que se vão passando ao nosso lado.


É com esta convicção que estou a começar este projecto - uma (re)construção do que me (e nos) rodeia.