quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Diário de um dia ligeiramente mau

1 - Acordei com os pés de fora


2 - Fiquei nervoso como o raio;

3 - Sai-me um trabalho aparentemente fácil no exame laboratorial de Tec IV;

4 - Descubro, já com a solução feita, que se enganaram no frasco de glucose e que o técnico acha que eu devia ter reparado nisso;

5 - O osmómetro decide ficar maluco quando quero fazer a medição, que vai dar mal, porque me puseram na bancada o frasco de glucose errado;

6 - Vou fazer o enchimento unitário e depois de ter explicado tudo bem, descubro que me esqueci da sobrecarga e que vou levar grande desconto no exame;

7 - Depois de sair às 17:30, a professora diz-me que o meu grupo ainda não entregou o relatório e que o quer, até às 19:30 no laboratório;

8 - Tenho que pedir o número de uma colega a outra colega que eu tenho a certeza que tem o telemóvel dela;

9 - Ligo e ela diz que quem tem o relatório é outra colega;

10 - Vinte minutos depois, diz-me que mandou para o meu mail e que posso imprimir;

11 - Chego a casa, começo a imprimir e acaba o tinteiro a meio;

12 - Depois de trocar o tinteiro e acabar a impressão, descubro que faltam nomes na capa do trabalho;

13 - Às 19:12 minutos saio de casa, já com o trabalho final;

14 - Às 19:25 entrego o relatório. Amanhã tenho exame laboratorial de Parasitologia às 10 da manhã.

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Remédios Santos sem Princípios Activos

Já nos terá passado pela cabeça que existam remédios santos sem princípios (ou como agora se diz, substâncias) activos? É a questão que a companhia de teatro Peripécia nos coloca no seu mais recente espectáculo: "Remédios Santos sem Princípios Activos". Não no plano meramente técnico ou científico, mas com alcance também na visão crítica de uma sociedade que persegue como obsessão a "pílula da felicidade".

A peça constrói-se inteligentemente em pequenas histórias que vão tocando umas nas outras, conferindo uma coesão interessante ao espectáculo. É nítida a preocupação de abordar os diferentes aspectos da indústria farmacêutica e da sua (omni)presença nas nossas vidas, mas sem cair no erro de criar sketches isolados; antes mantendo um fio condutor que se vai adensando. O tom é cómico, mas é claramente perceptível que ele se vai tornando mais noir até chegar ao sarcasmo, à ironia e mesmo ao escárnio presentes no final da peça. É paradigmática a afirmação do Guarda-Mor da Morgue dos Mortos de Marca: "Os Santos funcionam de forma muito esquisita... São uns dos maiores efeitos placebo da história da medicina...".

O espaço cénico é simples, mas eficaz. Em conjunto com o desenho de luz e som, e com recurso a diversos adereços (com uma utilização muitas vezes surpreendente), permite caracterizar com propriedade os diferentes ambientes que a peça pretende retratar: desde um sofisticado hotel onde decorre uma conferência da indústria farmacêutica até um sombrio laboratório. O elenco é homogéneo e coeso, conseguindo o salto entre um registo mais clássico e uma representação mais voltada para a expressão corporal, inspirada nos clowns. É uma marca que torna a peça reconhecível em qualquer parte do mundo como sendo de Peripécia Teatro (e que maior elogio se poderá fazer aos actores e ao encenador?). Faço uma referência especial à cena em que o técnico de vendas promove os produtos da sua multinacional farmacêutica: plena de ironia, com uma utilização fantástica dos recursos cénicos (um computador e um retroprojector) e baseada numa contracena cheia de cumplicidade, consegue em poucos minutos fazer-nos reflectir sobre a nossa condição de utilizadores (ir)racionais do medicamento.

Fica claro, ao longo do espectáculo, que os autores nos pretendem transmitir uma mensagem clara sobre os estragos que a indústria farmacêutica causa na nossa sociedade. Os lucros fabulosos. A prescrição errada de psicofármacos que é impulsionada pela pressão da indústria farmacêutica sobre os médicos. Os negócios escuros envolvendo a descoberta de novas substâncias activas e os grandes laboratórios farmacêuticos. A mudança de paradigma da descoberta de novas substâncias activas e a importância crescente da farmacoeconomia. Não será por acaso que José Maria, portador de uma válvula cardíaca artificial defeituosa, cita George Orwell. Ou que até um jovem Hitler apareça nos laboratórios da Bayer e seja sujeito a ensaios clínicos com heroína.

Como futuro profissional na área farmacêutica, não concordo com toda a ideologia veiculada na peça. Faço um mea culpa relativamente ao uso de antidepressivos e outros medicamentos. Mas não penso que a ritalina administrada aos hiperactivos seja um mal absoluto, é antes um compromisso possível entre risco e benefício. Os lucros fabulosos serão absolutamente maus? Ou também permitem que continuem a surgir novos medicamentos para o cancro ou anti-retrovíricos para o tratamento da SIDA? Sem esquecer o importante papel da indústria farmacêutica na economia de mercado, que, apesar dos seus defeitos, foi o sistema económico que mais gente tirou da miséria.

De qualquer modo, estes "Remédios Santos sem Princípios Activos" são uma óptima proposta se quer ir ao teatro. Fazem rir, pensar, concordar e discordar, mas nunca nos deixam indiferentes. E pode ser que ainda consiga descobrir um remédio santo...

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Remodelação

Por vezes é necessário que lá fora se veja a mudança interior.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Nem tudo está perdido

"É nosso destino enquanto seres humanos sermos salvos por alguém..."

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

"A Passagem das Horas"...

... era um título que a memória do meu computador tinha convenientemente guardado para quando fosse necessário. Não será ele adequado para quando passaram dois anos (e mais uns dias) desde que esta página foi criada? Foram mais de dezassete mil horas, que passaram como se fossem somente dezassete minutos. Reflexões mais ou menos pessoais, alguns devaneios inconsequentes...

Sem rotina diária, semanal ou mensal, os posts foram surgindo à maneira de "notas complementares" que vão sendo adicionadas, sem pretensão de serem uma obra literária mas tão somente com o fim de fazer perguntas, levantar hipóteses, ouvir um pouco de música.

Depois de tantas horas, algumas passadas neste espaço, devo dizer que cada vez mais a velocidade deste nosso mundo me surpreende. Agora, que está na moda fazer "balanços da década" (que vêm adiantados segundo o calendário gregoriano e serão repetidos no próximo ano, para maior lucro da imprensa em crise), eu penso no que foram estes tempos e vejo que cada vez mais estamos próximos de ser "computadores ambulantes".

As redes sociais introduziram na linguagem os verbos "amigar" e "desamigar". Até a música "pimba" deixou de lado as metáforas e os duplos sentidos para nos "excluir do Orkut e bloquear no msn". A mim, um admirador incondicional da televisão, dizem-me que estou no século XX (e, portanto, segundo uma cultura "moderna", sou atrasado e reaccionário).

As relações humanas, hoje em dia, são alimentadas a vocabulário de SMS, a conversas sobre tudo e nada no msn, às "causas" e "causos" que se defendem no Facebook... Interessa o "show-off", o "politicamente correcto". Hoje, não se pode ter estilo, segue-se a moda que muda a cada seis meses - na roupa, na música, nos costumes sociais, na política, nos indicadores económicos. As nossas relações com os outros são assépticas. Serei pessimista ao dizer que, nesta década que passou, perdemos a capacidade de olhar nos olhos?