quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Exame de QO I (Qualidade e Organização I)

Como forma de expressar o meu gene que regula a bílis, o suco gástrico e afins, venho por este meio redigir este post.

Contexto clínico: Reprovação a QO I (Química Orgânica I, bem entendido).

Análise farmacológica: À falta de princípios activos suficientemente fortes para "tratar" da Sra. Professora das Saias, faça-se exame à novata (leia-se Senhora Ministra da Saúde) - se possível, com administração oral de óleo de fígado de bacalhau.


Grupo I - Sobre a problemática da urgência/emergência (7 valores distribuídos equitativamente)

1. O que é um SAP?

2. O que é o CODU?

3. Defina SUB, SUMC e SUP.

4. O que é o INEM?

5. Refira as especificidades dos bombeiros, referindo expressamente as diferenças entre voluntários e sapadores.

6. Quantos serviços de urgência vão fechar (oops, abrir)?

7. Onde fica Anadia? E Alijó?


Grupo II - Sobre as (outras) ordens profissionais (6 valores distribuídos equitativamente)

1. O que é um médico?

2. O que é um enfermeiro?

3. Quais são os direitos do médico?

4. Quais são os deveres do enfermeiro?

5. Distinga prática clínica de exercício da medicina.

6. Quantos enfermeiros vai despedir (melhor, reorganizar)?


Grupo III - Das generalidades da Farmácia em Portugal (5 valores distribuídos equitativamente)

1. Distinga parafarmácia de farmácia (daquelas a sério).

2. Distinga farmacêutico de técnico de farmácia (o seu antecessor, por exemplo, não sabia).

3. Defina unidose.

4. Distinga farmácia de oficina de farmácia comunitária.

5. Explique como se abrem farmácias de venda ao público em hospitais.


Grupo IV - Questão de desenvolvimento (vulgo "bónus") (2 valores)

Comente a seguinte afirmação: "Para onde vai a saúde em Portugal? Que linha condutora é seguida?".
No desenvolvimento da questão deve indicar expressamente:
- mecanismos envolvidos;
- projecções de Newman utilizadas;
- nomenclatura IUPAC;
- justificações quanto à (possível) aromaticidade do resultado obtido nos testes cromatográficos.



Nota Final: Amanhã, melhoria a Química Geral e Inorgânica e depois QO I...

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Indefinições

Estou a passar uma daquelas fases geralmente designadas por "crises existenciais". Sim, aqueles dias em que só nos apetece mandar o mundo dar uma curva na sua órbita e as pessoas de que mais gostamos para aquele sítio caracterizado por um cheiro muito próprio... Claro que o facto de existirem exames de Química Geral e Inorgânica na Sexta não ajudam nada à situação.

Contudo eu, como bom (futuro) cientista, fui tentar investigar quais poderiam ser as causas desta inquietude: peguei no material necessário, nos reagentes e apliquei as técnicas laboratoriais adequadas. Assim, procedi à cristalização da incerteza, à cromatografia da mistura de sentimentos para ver se conseguia separar os diferentes feelings, à electroforese dos estados de espírito. Resultado, apenas um: a insatisfação inerente ao ser humano e que, em intervalos mais ou menos regulares assoma à superfície da nossa alma.

Mas quais seriam as fontes desta insatisfação? Deixei de lado o laboratório e parti para o quarto. Ali, cruzei todos os dados obtidos. Depois, um pouco de raciocínio indutivo e outro tanto de dedutivo; dei por mim a fazer um balanço analítico destes últimos tempos. E recuei no tempo...

24 de Setembro de 2007, Segunda-Feira. O 1º dia de faculdade. Mais importante, o 1º dia de praxe. Aquelas horas de 4 e de 3, em frente à igreja de Cedofeita e na entrada da faculdade. Mas também os primeiros laços que se estabeleciam - nem que fosse através das queixas comuns a todos: "Doem-me os joelhos...". Hoje, aqueles colegas da 1ª semana, começam a tornar-se amigos - apoios insubstituíveis em tantas situações. Nos últimos tempos, sempre que reflicto um pouco, venho parar a este dia. E concluo que aquele dia, tão difícil, acabou por ser o início de uma aventura espectacular.

Em pouco mais de quatro meses (parece o quádruplo) fiz tanto. Tantas coisas de que não me julgava capaz. E não me refiro apenas a alguns momentos engraçados. Vai muito além disso: a capacidade de me relacionar com pessoas tão diferentes de mim e aceitar as suas diferenças em nome de um ideal comum; a capacidade de criticar construtivamente, de trocar argumentos sem me colocar numa posição de superioridade; a capacidade de gerir os aspectos quotidianos autonomamente; a capacidade de assumir os meus erros e as suas consequências.

Mas ao enumerar estas coisas, apercebo-me do longo caminho que há percorrer. Alguém referia há dias a metáfora do "balão": Quanto mais ele enche, mais sabemos. Mas a área de contacto com o exterior também cresce. Isto é, quanto mais sabemos, mais tomamos consciência de que ainda falta muito para descobrir.

Tentei viver e contribuir para tudo no máximo das minhas possibilidades. Acho que nem quando estava doente deixei de tentar fazer o melhor. E assumo que cometi erros, sem dúvida. Talvez o maior tenha sido esquecer-me em certas ocasiões do tão necessário espírito de autocrítica. E sinceramente espero que nunca, mas nunca me esqueça da t-shirt de caloiro que visto com todo o orgulho de ser de Farmácia, mas com toda a humildade daquele cujo caminho apenas agora se inicia.

Hoje, uma metade de mim já sonha com o futuro, com aquele dia em Maio em que o negro nos passará a acompanhar. Mas à outra, só lhe apetece voltar ao primeiro dia e reviver tudo novamente, de preferência em câmara lenta...

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Prolegómenos à arte de representar

É na Grécia que vamos encontrar a origem da arte de representar. Penso, aliás, que a definição etimológica de teatro (a primeira forma de manifestação dessa arte), "o local onde se vê", transporta consigo a ideia de assistir a um todo - acção, personagens, cenários e público, elementos que são interdependentes e dificilmente separáveis - onde podemos observar facetas peculiares da realidade, tratadas de uma maneira ficcionada.

Esta manifestação cultural, complexa, foi evoluindo conforme o contexto social que a rodeou. Não será de estranhar que na Idade Média o teatro tivesse estado "adormecido" devido à influência da Igreja. Ou que o seu ressurgimento se tivesse dado (essencialmente) no Renascimento, como mais um elemento do Homem-centro-do-mundo. Ao longo dos tempos, drama e comédia (e os seus sub-géneros) foram alternando na preferência dos espectadores - por um lado as elites, por outro o povo.

Mas julgo que a arte da representação, na sua definição mais global, foi marcada por dois acontecimentos relativamente próximos de nós em termos históricos: a invenção do cinema e o surgimento da televisão.


O cinema trouxe consigo uma linguagem diferente. A perspectiva da imagem (e mais tarde do som) gravada era sem dúvida uma grande novidade. No cinema, as emoções poderiam ficar como que "cristalizadas", guardadas numa fita e sempre prontas a serem "descongeladas" quando o público quisesse. No meu entender, é esta cristalização que permite que existam as estrelas de cinema - as suas imagens sempre guardadas num canto da nossa memória, ora desempenhando o papel de herói, ora de vilão, ora num registo cómico, ora num registo dramático, naquela determinada situação, sempre igual.

A televisão, por muitos considerada um "veículo menor" de cultura, veio transformar ainda mais esta equação. Ela permitiu, na minha opinião, o cruzamento entre teatro e cinema através dos chamados "teledramáticos" - teleteatros, telenovelas, séries. Por um lado, a imagem filmada e por outro, o ecrã "onde se vê". No fundo, abriu infinitas possibilidades no que concerne à arte da representação através de fórmulas mais próximas respectivamente, ao teatro e ao cinema.

E penso que, depois destas considerações, seria injusto não fazer uma referência ao actor, aquele que "está em vez de", do grego "hypocryte". A construção da personagem é a sua essência. Conseguir representar uma outra personalidade, com base nas suas vivências, mas sem que essas se confundam com a personagem. Externamente, nós reparamos no olhar e nos gestos mas, interiormente o processo de criação é muito mais profundo - um verdadeiro mergulho na memória afectiva.

E tantas vezes vemos desempenhos magníficos - de que cito apenas o último exemplo que vi, n' "O Assassino de Jesse James" (apesar de a minha colega Verónica, certamente esgotada pelo exame de Física Aplicada, se ter entregado, muito literalmente, ao "sono dos justos"); o duelo entre o surpreendente Jesse James de Brad Pitt e o assombroso Casey Affleck como um Robert Ford disposto a tudo para ser uma "lenda viva" e ocupar o lugar do seu mentor.

Apesar de sermos tantas vezes "brindados" com o vedetismo de "modelitos" cuja capacidade interpretativa varia na razão inversa dos auto-elogios, temos a consolação de sentir que, com desempenhos como os referidos no parágrafo anterior, verdadeiras "construções" de índole humana, ficamos um pouco mais perto de conhecer a essência das coisas.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Divagações Metafísicas

Uma das questões que me aborreceu aquando da criação do blog, durante infindo tempo (à volta de 30 minutos e 29 segundos, com uma margem de erro de 2,377% - aproximada às milésimas) foi o nome que havia de dar a isto.

Uma das minhas ideias foi o título deste post: "Divagações Metafísicas". Com algumas razões perfeitamente (i)lógicas:

Divagação - s.f., acto de divagar; digressão; devaneio; episódios.

Metafísica - do Gr. tà metà tà physiká, depois dos tratados da Física
s. f., conhecimento das causas primeiras e dos primeiros princípios; parte da Filosofia que estuda a essência das coisas; conhecimento geral e abstracto; transcendência; abstracção; carácter do que é abstracto; subtileza no discorrer.

Ora, o que é um blog senão uma divagação? O seu autor faz digressões por todos os assuntos que lhe dêem na real gana. Muitas vezes (especialmente quando está chateado porque o exame correu mal ou, ainda mais frequentemente, porque a namorada lhe pôs os tarecos à porta do quarto - devido à TPM, como é óbvio) devaneia entre a realidade atroz, quase sufocante e este mundo cibernáutico de que ele é rei e senhor, preferindo este último (exceptuando quando o computador entra em processo de auto-destruição, o vulgaríssimo crash). E os posts são os episódios de uma novela da vida real (mas não confundam com o Big Brother). Ou então, para os espíritos mais românticos, as didascálias e os apartes que vão passando pelo palco da vida.

Quanto à parte metafísica... Bem, quanto à parte da metafísica, só posso dizer que um blog acaba por ser uma janela para o nosso apartamento global. Melhor: um blog pode e deve ser, na minha opinião, uma espécie de olhos (ou de dedos) da alma, um caminho aberto para a essência das coisas (referentes ao autor, bem entendido). E, continuando a ideia do parágrafo anterior, uma espécie de abstracção do que este não quer e não deseja. E a expressão grega "tà metà tà physiká" é absolutamente fenomenal e fofinha, especialmente devido à localização muito especial e um tanto característica da particula "".

Mas depois, num momento de lucidez absoluta, optei por "Notas Complementares ao Mundo". Não é que seja melhor, mas soa melhor ao ouvido. Parece o título de um livro escrito por um autor famosíssimo. E neste mundo que teima em querer acelerar a velocidade de centrifugação, sempre é melhor um autor conceituado do que andar a procurar conhecer as causas primeiras...

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Starting blogging...

"Em geral, no processo de projectar, o que depois se verifica ser referência, não nasce como uma citação. O que sucede é que a nossa cabeça está cheia de imagens e elas acorrem espontaneamente. [...] Porque o processo de projectar, no início, faz-se de forma muito global, quase nebulosa. Portanto, o que vem de referências não é citação; é a carga que tem o nosso computador pessoal e intransmissível."

Álvaro Siza Vieira, Arquitecto

Encontrei esta citação no Google sobre o início das coisas. Esse princípio, global, quase nebuloso. No meu caso poderia dizer: Para quê começar a escrever um blog? E as imagens, motivos e referências "acorrem espontaneamente":

"Porque os blogues estão na moda."


"Porque a blogosfera é um espaço de debate."


"Porque me apetece ter um blog."


"Porque me apetece ter um passatempo."


Eu, por mim, estou a criá-lo porque no dia da passagem de ano disse que este ano ia criar um blog. É uma razão ridícula, dirão alguns. E acrescentarão: "Já vais com oito dias de atraso."


Bem, digamos que ela é apenas a causa próxima. Ao começar a escrever o blog, tenho também a convicção pessoal que um blogue pode ser o modo de me situar no mundo, de forma irrepetível, original, criativa. Ou talvez mais correctamente: "recriativa", na medida em que resulta da nossa leitura personalizada das referências, dos acontecimentos que se vão passando ao nosso lado.


É com esta convicção que estou a começar este projecto - uma (re)construção do que me (e nos) rodeia.