terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Indefinições

Estou a passar uma daquelas fases geralmente designadas por "crises existenciais". Sim, aqueles dias em que só nos apetece mandar o mundo dar uma curva na sua órbita e as pessoas de que mais gostamos para aquele sítio caracterizado por um cheiro muito próprio... Claro que o facto de existirem exames de Química Geral e Inorgânica na Sexta não ajudam nada à situação.

Contudo eu, como bom (futuro) cientista, fui tentar investigar quais poderiam ser as causas desta inquietude: peguei no material necessário, nos reagentes e apliquei as técnicas laboratoriais adequadas. Assim, procedi à cristalização da incerteza, à cromatografia da mistura de sentimentos para ver se conseguia separar os diferentes feelings, à electroforese dos estados de espírito. Resultado, apenas um: a insatisfação inerente ao ser humano e que, em intervalos mais ou menos regulares assoma à superfície da nossa alma.

Mas quais seriam as fontes desta insatisfação? Deixei de lado o laboratório e parti para o quarto. Ali, cruzei todos os dados obtidos. Depois, um pouco de raciocínio indutivo e outro tanto de dedutivo; dei por mim a fazer um balanço analítico destes últimos tempos. E recuei no tempo...

24 de Setembro de 2007, Segunda-Feira. O 1º dia de faculdade. Mais importante, o 1º dia de praxe. Aquelas horas de 4 e de 3, em frente à igreja de Cedofeita e na entrada da faculdade. Mas também os primeiros laços que se estabeleciam - nem que fosse através das queixas comuns a todos: "Doem-me os joelhos...". Hoje, aqueles colegas da 1ª semana, começam a tornar-se amigos - apoios insubstituíveis em tantas situações. Nos últimos tempos, sempre que reflicto um pouco, venho parar a este dia. E concluo que aquele dia, tão difícil, acabou por ser o início de uma aventura espectacular.

Em pouco mais de quatro meses (parece o quádruplo) fiz tanto. Tantas coisas de que não me julgava capaz. E não me refiro apenas a alguns momentos engraçados. Vai muito além disso: a capacidade de me relacionar com pessoas tão diferentes de mim e aceitar as suas diferenças em nome de um ideal comum; a capacidade de criticar construtivamente, de trocar argumentos sem me colocar numa posição de superioridade; a capacidade de gerir os aspectos quotidianos autonomamente; a capacidade de assumir os meus erros e as suas consequências.

Mas ao enumerar estas coisas, apercebo-me do longo caminho que há percorrer. Alguém referia há dias a metáfora do "balão": Quanto mais ele enche, mais sabemos. Mas a área de contacto com o exterior também cresce. Isto é, quanto mais sabemos, mais tomamos consciência de que ainda falta muito para descobrir.

Tentei viver e contribuir para tudo no máximo das minhas possibilidades. Acho que nem quando estava doente deixei de tentar fazer o melhor. E assumo que cometi erros, sem dúvida. Talvez o maior tenha sido esquecer-me em certas ocasiões do tão necessário espírito de autocrítica. E sinceramente espero que nunca, mas nunca me esqueça da t-shirt de caloiro que visto com todo o orgulho de ser de Farmácia, mas com toda a humildade daquele cujo caminho apenas agora se inicia.

Hoje, uma metade de mim já sonha com o futuro, com aquele dia em Maio em que o negro nos passará a acompanhar. Mas à outra, só lhe apetece voltar ao primeiro dia e reviver tudo novamente, de preferência em câmara lenta...

5 comentários:

Anónimo disse...

olaaaaa outra vezzz... sinto exactamente o mesmo, sei k este ano é o melhor, mas tenho um certa inquietude em trajar.... por outro lado voltar ao 1 dia significa pensar k a minha faculdade e doutores eram todos fantasticos, nao sei se gostaria de viver essa mentira outra vez....

Anónimo disse...

ahhhh, axo k me eskeci de te elogiar =P ta espectacular o texto... parabens
bjxxxxx gandexxxxxx

João Cardoso disse...

ver_oli, acho que não tem a ver com mentira. Quando eu me referi ao primeiro dia, falei na recordação. Não falei em juízos de valor que possa eventualmente fazer agora.
Os doutores sempre assumiram que eram pessoas, logo com virtudes e defeitos. O facto de termos mais afinidade com este ou aquele doutor não implica que consideremos os restantes maus.
E acho que sentir inquietude em trajar é bom sinal, é sinal que tens consciência do que implica essa opção.

Anónimo disse...

Um dia alguem me disse "Roupa e pano, Traje e vida"

Anónimo disse...

Vamos arranjar uma máquina do tempo, voltar a dia 24, e viver de novo todos aqueles momentos e experiências mágicas? Eu quero! =)

Ri, ri muito. chorei muito tb. "lágrimas de orgulho" (como diz uma amiga minha ;)), de alegria, de um amor cada vez maior. Tudo o que vivi guardo num lugar bem aconchegado do meu coração. :')