quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Prolegómenos à arte de representar

É na Grécia que vamos encontrar a origem da arte de representar. Penso, aliás, que a definição etimológica de teatro (a primeira forma de manifestação dessa arte), "o local onde se vê", transporta consigo a ideia de assistir a um todo - acção, personagens, cenários e público, elementos que são interdependentes e dificilmente separáveis - onde podemos observar facetas peculiares da realidade, tratadas de uma maneira ficcionada.

Esta manifestação cultural, complexa, foi evoluindo conforme o contexto social que a rodeou. Não será de estranhar que na Idade Média o teatro tivesse estado "adormecido" devido à influência da Igreja. Ou que o seu ressurgimento se tivesse dado (essencialmente) no Renascimento, como mais um elemento do Homem-centro-do-mundo. Ao longo dos tempos, drama e comédia (e os seus sub-géneros) foram alternando na preferência dos espectadores - por um lado as elites, por outro o povo.

Mas julgo que a arte da representação, na sua definição mais global, foi marcada por dois acontecimentos relativamente próximos de nós em termos históricos: a invenção do cinema e o surgimento da televisão.


O cinema trouxe consigo uma linguagem diferente. A perspectiva da imagem (e mais tarde do som) gravada era sem dúvida uma grande novidade. No cinema, as emoções poderiam ficar como que "cristalizadas", guardadas numa fita e sempre prontas a serem "descongeladas" quando o público quisesse. No meu entender, é esta cristalização que permite que existam as estrelas de cinema - as suas imagens sempre guardadas num canto da nossa memória, ora desempenhando o papel de herói, ora de vilão, ora num registo cómico, ora num registo dramático, naquela determinada situação, sempre igual.

A televisão, por muitos considerada um "veículo menor" de cultura, veio transformar ainda mais esta equação. Ela permitiu, na minha opinião, o cruzamento entre teatro e cinema através dos chamados "teledramáticos" - teleteatros, telenovelas, séries. Por um lado, a imagem filmada e por outro, o ecrã "onde se vê". No fundo, abriu infinitas possibilidades no que concerne à arte da representação através de fórmulas mais próximas respectivamente, ao teatro e ao cinema.

E penso que, depois destas considerações, seria injusto não fazer uma referência ao actor, aquele que "está em vez de", do grego "hypocryte". A construção da personagem é a sua essência. Conseguir representar uma outra personalidade, com base nas suas vivências, mas sem que essas se confundam com a personagem. Externamente, nós reparamos no olhar e nos gestos mas, interiormente o processo de criação é muito mais profundo - um verdadeiro mergulho na memória afectiva.

E tantas vezes vemos desempenhos magníficos - de que cito apenas o último exemplo que vi, n' "O Assassino de Jesse James" (apesar de a minha colega Verónica, certamente esgotada pelo exame de Física Aplicada, se ter entregado, muito literalmente, ao "sono dos justos"); o duelo entre o surpreendente Jesse James de Brad Pitt e o assombroso Casey Affleck como um Robert Ford disposto a tudo para ser uma "lenda viva" e ocupar o lugar do seu mentor.

Apesar de sermos tantas vezes "brindados" com o vedetismo de "modelitos" cuja capacidade interpretativa varia na razão inversa dos auto-elogios, temos a consolação de sentir que, com desempenhos como os referidos no parágrafo anterior, verdadeiras "construções" de índole humana, ficamos um pouco mais perto de conhecer a essência das coisas.

1 comentário:

Anónimo disse...

loool pelos vistos vou ser a primeira a comentar, mas digo-te desde ja k o texto ta fantastico, mesmo do teu genero... lol kanto ao filme, acredito na tua classificacao, mas sinceramente para mim nao dá, a historia ate era engracada, mas a pouca agitacao do filme...
bjxxx